Vamos falar das mulheres na fotografia brasileira?


8 de março de 2021

CAROLINA SOARES

O Dia Internacional da Mulher deve ser lembrado por suas lutas e conquistas. Ao falarmos disso, é fundamental conhecermos a nossa história e quem nos ajudou a construí-la. No mercado fotográfico, os equipamentos que nos permitiram registrar acontecimentos, expressões e transformações do mundo e das pessoas ao longo dos séculos nada seriam sem aqueles que habilmente eternizaram a memória por meio do clique. No Brasil, muito embora as mulheres estejam em menor número ou ainda sejam menos ressaltadas por suas contribuições no mundo da imagem, seus trabalhos são valiosos e não podem ser esquecidos. Fiz questão de trazer aqui quatro nomes e suas perspectivas através das lentes. Espero que possamos juntos conhecer, celebrar e olhar com mais atenção para o trabalho das mulheres na fotografia.

1 – Hildegard Baum Rosenthal

Hildegard Baum Rosenthal nasceu em Zurique na Suíça, em 1913, estudou em Paris e em Frankfurt, e mudou para São Paulo em 1937, quando o governo nazista avançava na Alemanha. Ao chegar ao Brasil, ela trabalhou em um laboratório de fotografia, mas pouco depois foi contratada como fotojornalista pela agência Press Information. Decidi destacar sua obra, não só porque ela foi a primeira fotojornalista do país, mas por ter registrado com tanta sensibilidade a cena cotidiana de São Paulo, do Rio de Janeiro e do interior da região. 

Seus trabalhos voltaram à tona em 1974, quando o historiador Walter Zanini chamou atenção para as suas fotografias. Depois disso, seu acervo já foi exposto pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC), o Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS) e o Instituto Moreira Salles. 

Hildegard Baum Rosenthal, Praça da Sé (São Paulo, 1940), Acervo Instituto Moreira Salles.

2 – Gioconda Rizzo

Gioconda Rizzo nasceu e viveu em São Paulo (1897-2004) onde ficou conhecida por ser a primeira mulher a abrir e gerir um estúdio fotográfico na cidade. No “Photo Femina” (1914-1916), ela retratava mulheres e crianças e se destacou ao criar um estilo próprio, fotografando seus modelos apenas dos ombros para cima. Esse quadro valorizava as expressões faciais em uma época em que o retrato de corpo inteiro dominava o gosto popular. Apesar de aprender a arte da fotografia com o pai, Michelle Rizzo, Gioconda mostrou-se uma artista independente e inovadora. 

Além da revelação, ela recorria a acabamentos a lápis, pinturas, nanquim e até mesmo coloração à mão. Infelizmente, seu estúdio teve pouco tempo de vida, fechando dois anos após abrir as portas. Ela seguiu como retratista no estúdio da família e passou a ser bastante procurada pela sua forma de criar ensaios únicos. Anos depois, passou a investir na técnica de transposição de fotografias para jóias e porcelana, outra novidade no país. Quando observamos tudo o que Gioconda produziu, refletimos sobre o que somos capazes de criar com tamanha tecnologia disponível hoje.

Gioconda Rizzo, São Paulo, 2003, por Maíra Soares.

3 – Vania Toledo

Saltaremos para 1945, em Minas Gerais, ano e lugar onde nasceu Vania Rosa Cordeiro de Toledo. Sua obra não pode ser descrita em poucas palavras, pois ela captava a essência do humano em suas fotos. Os retratos em sua maioria em preto e branco documentavam artistas e personalidades do cenário cultural brasileiro. Vania começou sua carreira em 1978 no jornal Aqui São Paulo, onde chegou a ser editora de fotografia. 

Abriu o próprio estúdio em 1981, mas além dos trabalhos para divulgações culturais e teatrais, continuou colaborando com diversos veículos nacionais e internacionais. Suas fotografias são vistas como obras de arte e suas exposições conquistaram prêmios aclamados como o de Melhor Exposição do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Ela dizia que a “fotografia é retrato da alma” e não arrisco contrariá-la.

Regina Casé, 1992, Vania Toledo, Acervo da artista.

4 – Mariana Maltoni

Todas as mulheres que falamos, além de muitas outras não mencionadas aqui, abriram caminhos para novas profissionais ganharem espaço e relevância no mercado com seus olhares particulares e desafiadores. As novas gerações de fotógrafas também derrubam padrões, com estilos e propostas ousadas. Destaco aqui o trabalho da Mariana Maltoni, carioca radicada em São Paulo e com editoriais publicados em edições da revista Vogue no Brasil, na Itália e na Espanha. 

Com uma perspectiva mais minimalista e foco no design, ela desenvolve um trabalho atual e moderno, transitando do editorial de moda, aos retratos e ensaios autorais. Suas imagens são inspiradoras e já foram expostas em grandes capitais do mundo como São Paulo e Nova York. 

Mariana Maltoni, Revista Vogue Itália.

Depois de relembrar o trabalho dessas mulheres e suas marcas na fotografia brasileira e mundial, tenho ainda mais ciência do valor de todas as profissionais da cadeia da imagem, cada uma a seu tempo na história. Que nós possamos gerar oportunidades para as mulheres incríveis que buscam fazer do nosso mercado um espaço positivo, dinâmico e inovador. Na nossa trajetória, na Fotopontocom, tivemos a chance de vivenciar de perto o talento de algumas delas, como Lili Reis, Cintia Costa, Ana Paula Assis, Natalia Garcia, Mara Marsal e Juliana Amorim, mulheres fortes com quem compartilhamos o amor pela fotografia e somos eternamente gratos. 

A transformação é um movimento coletivo. Feliz dia das mulheres!


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